Novembro 23, 2024

Agricultura Internacional

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Podemos combater as alterações climáticas sem recorrer á rega?

A baixa pluviosidade e temperaturas elevadas na vinha, devido às alterações climáticas, podem levar a uma redução dos níveis de produção, alterações nos parâmetros qualitativos da vindima e a uma aceleração dos estados fenológicos.

A resposta mais imediata para combater esta situação é a rega, uma técnica que, no entanto, só pode compensar parte dos seus efeitos. Por outro lado, a crescente preocupação com a preservação dos recursos hídricos, torna necessário avaliar a aplicação de técnicas alternativas.

Ao nível da vinha, existem técnicas alternativas, como o sombreamento da vinha, o mulching ou a gestão da densidade de plantação, que, para apresentarem eficácia, devem ser integradas numa estratégia global de adaptação às alterações climáticas e não executadas individualmente.

O IFV (Institut Francais de la Vigne et du Vin) publicou um relatório sobre resultados recentemente obtidos na avaliação de algumas destas alternativas:

Ações ao nível da planta: gestão da relação folha/fruto

Foram efetuados ensaios na vinha para estudar o efeito do rendimento no stress hídrico. Os resultados mostram que as diferenças de stress hídrico, quando ocorrem, são observadas tardiamente (após o pintor) e/ou com níveis de stress hídrico elevados, não permitindo um nível de produção aceitável. As principais conclusões destes ensaios são as seguintes:

  • Numa situação de stress hídrico moderado a elevado, a modulação da carga em uva não gera uma resposta suficiente para compensar os efeitos da secura. A redução da carga em uva não permite uma maior resistência ao período de stress elevado e também tem efeitos na maturação que tendem a acelerar a concentração de açúcares na uva em situações em que a precocidade é frequentemente um problema.
  • A atuação sobre a altura da vegetação tem pouca ou nenhuma influência na sensibilidade ao stress hídrico e não permite compensar um período de seca.
  • Se as medições revelarem uma maior sensibilidade das parcelas de elevada densidade ao stress hídrico, a interpretação destes resultados deve ser completada tendo em conta os efeitos induzidos, por um lado, na qualidade da colheita e, por outro, na manutenção dos rendimentos.

Ações relacionadas com o clima

As ações possíveis na vinha para limitar a pressão do clima passam principalmente pela redução da intensidade luminosa. Atualmente, estão a ser implementadas diferentes soluções de sombreamento da vinha, utilizando principalmente redes de sombreamento ou painéis fotovoltaicos. Estão em curso ensaios para estudar o efeito do período e da intensidade do sombreamento.

Primeiros resultados: o efeito da sombra no stress hídrico é significativo e duradouro, mesmo numa situação de elevada sensibilidade à secura. Nas uvas, a sombra induz um atraso na maturação do açúcar e um atraso na data da vindima de cerca de 7 a 10 dias, mas é acompanhada de uma diminuição da intensidade da cor das uvas, pelo que terá de ser avaliada em função da casta ou do tipo de vinho.

Ações ao nível do solo

A melhoria do estado hídrico das parcelas ao nível do solo envolve dois tipos principais de ações: limitar as perdas de água por evaporação direta através da utilização de coberturas superficiais ou melhorar a capacidade de retenção de água através da modificação das características físico-químicas do solo.

No que diz respeito à redução da perda de água por evaporação direta, foram realizados vários ensaios aplicando mulching de RCW / BRF com cerca de dez centímetros de espessura. Os resultados obtidos em diferentes condições pedo climáticas não mostraram um efeito significativo deste tipo de prática na sensibilidade ao stress hídrico.

Relativamente à melhoria da capacidade de retenção de água do solo, foram estudadas medidas relacionadas com o teor em matéria orgânica. O funcionamento do solo melhorou muito, mas os resultados não mostraram um efeito positivo na redução da sensibilidade ao stress hídrico, embora a utilização de corretivos do solo e de elementos de retenção de água sejam certamente instrumentos muito promissores.

Os problemas a resolver são: para o primeiro, o momento da aplicação, que deve ser suficientemente precoce para induzir a durabilidade do produto, por vezes incompatível com a biodegradabilidade que os caracteriza, e, para o segundo, a colocação, na zona radicular, o que é fisicamente difícil de conseguir em vinhas adultas, a menos que sejam utilizados produtos capazes de migração profunda.

Está atualmente a ser estudada a utilização de biochar (produtos obtidos a partir da torrefação de matéria orgânica). Isto implica a utilização de subprodutos da indústria vitivinícola no âmbito de um círculo virtuoso, através da criação de biochar a partir de películas de uva purificadas.

Biochar é matéria orgânica inerte, do ponto de vista nutricional, mas estável ao longo do tempo e com propriedades de adsorção de água. Este tipo de produto contribui para melhorar o teor de matéria orgânica do solo e para armazenamento de carbono.

Em comparação com a simples utilização de composto, biochar demonstra ser eficaz na redução do stress hídrico, na dinâmica do crescimento e na melhoria do peso dos bagos. Estão em curso novos ensaios com estes produtos, que continuam a ser, juntamente com o sombreamento, uma das únicas soluções eficazes para limitar os efeitos da secura na vinha.

Conclusões

Não existem muitas opções técnicas que possam ser aplicadas na vinha para limitar o efeito das alterações climáticas. Estas ações, consideradas individualmente, não são muito eficazes, com exceção do sombreamento ou dos elementos de retenção de água no solo, que oferecem perspetivas interessantes.

Os efeitos induzidos pelo atraso da maturação são mais numerosos e devem ser avaliados tendo em conta a tipicidade dos vinhos produzidos e os eventuais riscos do atraso da vindima no rendimento ou no estado sanitário das uvas.

Por conseguinte, o impacto de uma única prática de cultivo parece ter um alcance bastante limitado; é necessário avaliar o impacto da soma destas ações individuais como estratégia de adaptação face às alterações climáticas. Além disso, num contexto em que os recursos hídricos são limitados, deve ser avaliada a otimização das quantidades de irrigação utilizadas em combinação com estas opções técnicas. Entre estas opções, a gestão/manutenção dos solos, o rácio folha/fruto ou as densidades de plantação representam vias possíveis interessantes. Por outro lado, a escolha das parcelas em função do seu potencial agronómico e a avaliação do material de plantação são mais importantes do que nunca.

Consulta o artigo original em francês aqui

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