Quantas espécies de plantas há no mundo? Mais de 350 mil espécies vasculares já identificadas pela ciência
Há cerca de 400 mil espécies de plantas descritas pela ciência, entre as quais 350 mil plantas vasculares, mas há ainda muitas por identificar, indica relatório “State of the World’s Plants and Fungi 2023”. Saber quantas espécies de plantas existem no mundo é mais complexo do que pode parecer e os números aumentam à medida que os investigadores conseguem descrever as “novas” espécies que vão sendo descobertas todos os anos.
Ninguém sabe ao certo quantas espécies de plantas existem no mundo, porque todos os anos são encontradas novas plantas que, só depois de caracterizadas e nomeadas cientificamente, passam a ser formalmente reconhecidas.
As projeções de 2023, dadas a conhecer pelo “State of the World’s Plants and Fungi 2023“, indicam que podem existir cerca de 450 mil espécies de plantas, incluindo plantas terrestres (vasculares) e plantas não vasculares, algas e briófitas (como os musgos). Deste total, cerca de 400 mil estão descritas cientificamente. No caso das plantas vasculares – plantas terrestres com um sistema semelhante aos vasos sanguíneos humanos, pelo qual circulam água e nutrientes – o número das espécies já nomeadas pela ciência ultrapassa as 350 mil (o total é de 350,386 mil).
Com a atividade humana cada vez mais presente (mesmo) em áreas recônditas do globo, poderia esperar-se que poucas espécies estivessem por descobrir, mas os números deste relatório demonstram o contrário: desde 2020 foram nomeadas pela ciência mais de 8600 novas espécies de plantas vasculares. E, se algumas são de pequena dimensão, podendo passar despercebidas com mais facilidade, outras são árvores de grande porte – gigantes que escaparam ao olhar de curiosos e especialistas (embora várias sejam conhecidas pelas comunidades locais).
É o caso da Eugenia paranapanemensis, uma nova árvore de entre as 8600 espécies descritas desde 2020. Com o nome comum de pitanga-amarela, eleva-se aos 25 metros e subsiste em fragmentos da Mata Atlântica, um ecossistema classificado como ameaçado, localizado no Estado de São Paulo, Brasil. A espécie pertence à família das Mirtáceas (Myrtaceae) e, entre o verde da sua copa, destacam-se pequenos frutos, que lembram mini abóboras, de cor amarela – inspiração para o nome comum da espécie – e que se tornam encarniçados quando amadurecem.
Tal como a pitanga-amarela, muitas das “novas” plantas classificadas cientificamente são espécies pouco frequentes ou raras e algumas só existem num país específico.
Quantas espécies de plantas estão em risco?
O relatório “State of the World’s Plants and Fungi 2023“, o quinto publicado por iniciativa da organização “Jardim Botânico Real de Kew”, estima que 77% das espécies de plantas ainda não descritas pela ciência estejam em situação de risco. E adianta também uma estimativa para o total das plantas que se encontram por descrever, mapear e nomear cientificamente: poderão equivaler a 15% de toda a flora mundial.
O relatório divulga ainda que 45% das espécies de plantas com flor (as angiospérmicas, que são o maior grupo de plantas terrestres) já nomeadas pela ciência podem estar ameaçadas, correndo o risco de se extinguirem.
Indica, em paralelo, que as plantas confinadas a um país ou território estão entre as mais vulneráveis à extinção e que existem mais de 221 mil espécies nesta situação. Brasil, Austrália e China são os três países do mundo com maior número destas espécies endémicas, únicas, que não crescem em nenhum outro lugar.
Merecem referência igualmente os dados relativos ao que o “State of the World’s Plants and Fungi 2023” chama de “darkspots” de diversidade vegetal, isto é, locais sobre os quais não existe praticamente nenhuma informação relativa à diversidade ou distribuição das plantas. 32 países são identificados como “darkspots”: 14 estão na Ásia Tropical, nove na América do Sul, seis na Ásia Temperada, dois em África e um na América do Norte. Bornéu, Colômbia, Equador, Filipinas, India, Myanmar, Nova Guiné, Peru e Turquia estão entre os “destinos” prioritários para trazer à luz esta flora desconhecida.
Refira-se que, em 2021, o relatório “State of the World’s Trees” (um trabalho do BGCI – Botanic Gardens Conservation International, com dados do projeto GTA – Global Tree Assessment) tinha avançado a existência de 58.497 espécies de árvores no mundo, sendo que 30% estavam ameaçadas de extinção e havia 142 já extintas no seu habitat natural.
Número de espécies estimado no mundo (a verde) e número de espécies já descritas pela ciência (a preto)
Fonte: State of the World’s Plants and Fungi 2023, com base em Pushing the Frontiers of Biodiversity Research: Unveiling the Global Diversity, Distribution, and Conservation of Fungi.
Biodiversidade: só pode proteger-se aquilo que se conhece
Se é difícil saber quantas espécies de plantas existem no mundo e quais poderão estar em risco, mais complexo é ainda conhecer quantas serão as espécies de fungos no planeta e quais as que arriscam a extinção. Isto porque o Reino Fungi é muito mais vasto (o segundo maior, depois dos invertebrados) e muito menos estudado do que o Reino Vegetal.
Estima-se que 92% a 95% das espécies de fungos estejam por descrever, de um total agora estimado em 2,5 milhões de espécies. Ainda assim, foram descritas cientificamente 10200 espécies de fungos entre 2020 e 2023.
“Estes enigmáticos organismos são há muito negligenciados pelos investigadores”, refere o relatório, que sublinha: ampliar o conhecimento sobre os fungos é um desafio gigantesco, mas constitui a próxima fronteira científica em termos de biodiversidade. “A manter-se o ritmo atual de caracterização destas espécies pela ciência, seriam necessários 750 a 1000 anos para conseguir descrever o mundo dos fungos”, alerta o documento, reforçando a necessidade de alocar recursos (incluindo financeiros) ao conhecimento essencial para estabelecer as adequadas políticas e linhas ação para a preservação da biodiversidade, de que todos dependemos.
Conhecer quantas espécies de plantas, fungos, vertebrados e invertebrados existem, identificar os seus habitats, aprofundar o conhecimento sobre o seu papel no ecossistema e saber caracterizá-las do ponto de vista científico (e taxonómico) é essencial para poder protegê-las.
Como as espécies interagem entre si e com outros elementos do ecossistema (solo, por exemplo), estabelecendo relações muito diversas e complexas, que não são totalmente compreendidas – de dependência, simbiose, competição, predação, etc. –, preservá-las é essencial para a integridade das comunidades biológicas e para a preservação da biodiversidade nas suas várias dimensões, desde o gene ao ecossistema.
Para saber mais sobre “O estado das plantas e fungos no mundo” em 2023, consulte o relatório completo, que resulta dos contributos de 200 cientistas, de 102 instituições, em 30 países do mundo.
Informação disponibilizada em Florestas.pt.