Brasil avança no uso de produtos biológicos: Indústria pede mais regras
O uso de produtos biológicos tem tido um avanço exponencial no Brasil nos últimos anos.
Atualmente, mais de 36% das áreas cultivadas foram tratadas com algum tipo de bioproduto, o que equivale a cerca de 84 milhões de hectares. O dado, que comprova o crescimento constante desse mercado no país tropical, foi levantado pela empresa de pesquisas Kynetec, que realizou sondagens em mais de duas mil cidades ao entrevistar 14.500 agricultores. Segundo dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), existem mais de 616 produtos biológicos registados no Brasil.
De acordo com Cristiano Limberger, gerente de Atendimento ao Cliente da Kynetec, esse crescimento é bastante positivo e sinaliza que a tendência é que o uso de bioprodutos nas culturas brasileiras se consolide e amplie ainda mais. “De acordo com o nosso estudo, ainda há muito potencial de crescimento para o uso”, avalia o especialista. Isto porque os agricultores brasileiros têm-se consciencializado de que o maneio dos cultivos já não pode ser feito apenas com produtos sintéticos e químicos. Além disso, os mercados importadores – nomeadamente a Europa – têm endurecido as exigências de controlo quanto a produtos cultivados com agroquímicos.
Em função de todo esse aumento exponencial, diversos atores da cadeia produtiva perceberam a necessidade da criação de regras e regulamentações. Diversos investigadores, técnicos e produtores chegaram à conclusão de que o arcabouço jurídico brasileiro precisa ser melhor construído para salvaguardar a qualidade dos produtos colocados no mercado, além da garantia jurídica de quem produz esses produtos e, em última análise, a segurança alimentar do consumidor.
Neste contexto, a indústria brasileira organizou-se e criou recentemente a ABINBIO, a Associação Brasileira de Indústrias de Biotecnologia, que reúne as empresas de produtos biológicos. Os associados pretendem concentrar forças para exigir um maior controlo e regulamentação da produção dos produtos biológicos, sejam eles biofertilizantes, biopesticidas ou mesmo novas tecnologias a serem lançadas que contenham micro-organismos na sua formulação.
Existem diversos projetos de Lei em andamento no Brasil para regular o setor, no entanto, ainda não existe um consenso sobre quais medidas devem ser aplicadas. “Entendemos que a Indústria brasileira de bioinsumos é referência para todo o mundo, e para que isso continue a ser assim, é de fundamental importância que os governantes e os órgãos reguladores brasileiros estejam atentos a possíveis entraves e ameaças ao setor. Assim, a ABINBIO vem para auxiliar na orientação das necessidades da indústria, bem como na divulgação da importância do segmento para a população”, afirma o presidente da Associação, Marcelo de Godoy. De acordo com ele, esses temas são de “fundamental importância” não só para o Brasil, mas também para o resto do planeta.
“O Brasil é um dos principais produtores de alimentos do mundo. Dessa forma, temos a obrigação de desenvolver uma agricultura cada vez mais produtiva e segura.
Para isso, a indústria nacional de bioprodutos tem o potencial de desenvolver e disponibilizar para os produtores tecnologias que irão proteger e elevar o teto produtivo das lavouras sem causar danos aos seres humanos e ao meio ambiente”, explica.
Marcelo de Godoy destaca que a Embrapa tem sido a principal parceira da indústria brasileira e tem apoiado essa iniciativa da ABINBIO. “A pesquisa desenvolvida pela Embrapa é de fundamental importância para que a indústria continue a inovar no segmento agrícola. Além disso, a indústria nacional de bioinsumos vem-se tornando um dos grandes financiadores da pesquisa dentro da Embrapa, investindo em grandes projetos para o desenvolvimento de tecnologias disruptivas para o agronegócio mundial”, conclui.